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quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Uma Silva sucessora de um Silva?
artigo de Leonardo Boff
Não estou ligado a nenhum partido, pois para mim partido é parte. Eu como intelectual me interesso pelo todo embora, concretamente, saiba que o todo passa pela parte.
Tal posição me confere a liberdade de emitir opiniões pessoais e descompromissadas com os partidos.
De forma antecipada se lançou a disputa: Quem será o sucessor do carismático presidente Luiz Inácio Lula da Silva?
De antemão afirmo que a eleição de Lula é uma conquista do povo brasileiro, principalmente daqueles que foram sempre colocados à margem do poder.
Ele introduziu uma ruptura histórica como novo sujeito político e isso parece ser sem retorno. Não conseguiu escapar da lógica macro-econômica que privilegia o capital e mantém as bases que permitem a acumulação das classes opulentas.
Mas introduziu uma transição de um estado privatista e neoliberal para um governo republicano e social que confere centralidade à coisa pública (res publica), o que tem beneficiado vários milhões de pessoas.
Tarefa primeira de um governante é cuidar da vida de seu povo e isso Lula o fez sem nunca trair suas origens de sobrevivente da grande tribulação brasileira.
Depois de oito anos de governo se lança a questão que seguramente interessa à cidadania e não só ao PT: quem será seu sucessor?
Para responder a esta questão precisamos ganhar altura e dar-nos conta das mudanças ocorridas no Brasil e no mundo. Em oito anos muta coisa mudou. O PT foi submetido a duras provas e importa reconhecer que nem sempre esteve à altura do momento e às bases que o sustentam.
Estamos ainda esperando uma vigorosa autocrítica interna a propósito de presumido “mensalão”. Nós cidadãos não perdoamos esta falta de transparência e de coragem cívica e ética.
Em grande parte, o PT virou um partido eleitoreiro, interessado em ganhar eleições em todos os níveis. Para isso se obrigou a fazer coligações muito questionáveis, em alguns casos, com a parte mais podre dos partidos, em nome da governabilidade que, não raro, se colocou acima da ética e dos propósitos fundadores do PT.
Há uma ilusão que o PT deve romper: imaginar-se a realização do sonho e da utopia do povo brasileiro. Seria rebaixar o povo, pois este não se contenta com pequenos sonhos e utopias de horizonte tacanho.
Eu que circulo, em função de meu trabalho, pelas bases da sociedade vejo que se esvaziou a discussão sobre “que Brasil queremos”, discussão que animou por decênios o imaginário popular.
Houve uma inegável despolitização em razão de o PT ter ocupado o poder. Fez o que pôde quando podia ter feito mais, especialmente com referência à reforma agrária e a inclusão estratégica (e não meramente pontual) da ecologia.
Quer dizer, o sucessor não pode se contentar de fazer mais do mesmo. Importa introduzir mudanças. E a grande mudança na realidade e na consciência da humanidade é o fato de que a Terra já mudou.
A roda do aquecimento global não pode mais ser parada, apenas retardada em sua velocidade.
A partir de 23 de setembro de 2008 sabemos que a Terra como conjunto de ecossistemas com seus recursos e serviços já se tornou insustentável porque o consumo humano, especialmente dos ricos que esbanjam, já passou em 40% de sua capacidade de reposição.
Esta conjuntura que, se não for tomada a sério, pode levar nos próximos decênios a uma tragédia ecológicohumanitária de proporções inimagináveis e, até pelo final do século, ao desaparecimento da espécie humana.
Cabe reconhecer que o PT não incorporou a dimensão ecológica no cerne de seu projeto político. E o Brasil será decisivo para o equilíbrio do planeta e para o futuro da vida.
Qual é a pessoa com carisma, com base popular, ligada aos fundamentos do PT e que se fez ícone da causa ecológica?
É uma mulher, seringueira, da Igreja da libertação, amazônica. Ela também é uma Silva como Lula. Seu nome é Marina Osmarina Silva.
O teólogo Leonardo Boff é autor do livro "Que Brasil queremos?" Vozes 2000
Fonte: Blog do Noblat (em 17ago09)
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3 comentários:
Olá Eurico!
ótimo teres postado este texto!Gosto desta linha de pensamento de Leonard Boff.Abraço!
Grato, Memo,
Estou a postos para novas reflexões sobre o fazer político, com preocupações que não se restrinjam às eleições, ou à governabilidade.
Não condeno o Lula por suas alianças. Sem alianças não se chega ao poder. Mas tenho ainda um pouco de bom senso, para fazer uma crítica de aliança como com o PL de Edir Macedo, por exemplo. Quem faz aliança assim, abre precedentes para alianças a torto e a direito. Depois acusam a Marina de servir ao PSDB. Esquecem que o PSDB é uma dissidência deste PMDB, que hoje é base do governo. Esquecem que o usineiro José Múcio o articulador político, serviu à direita pernambucana.
Claro que a Marina, se for pro segundo turno, vai querer todo o apoio possível. Mas sua utopia aponta para algo além do Fome Zero, para a exploração sustentável da natureza, em prol do homem. Sua política social, com certeza será o novo nessas eleições.
Abraço fraterno.
Também admiro o Leonardo Boff. E o seu apoio à Marina, é um bom sinal...
Eurico, gstei do texto e do blog. Voltarei!
Abraço.
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