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quarta-feira, 12 de maio de 2010

Lirismo, sim. Passadismo, não.
























Falo em nome de um Bloco Lírico que se entende como um bloco “do presente, sem esquecer dos valores do passado”. Não é por acaso que o nosso bloco não se denomina “bloco carnavalesco misto”, posto que essa palavra, ‘misto’, aponta para um tempo em que as mulheres mal saíam às ruas e nem podiam trabalhar fora, estudar ou votar. Carnaval de rua, nem pensar! Esse tempo passou. Nosso bloco é criado por mulheres modernas, cultas, trabalhadoras, mulheres do século 21. O tempo de um bloco se chamar de misto, pelo fato de ter mulheres e homens em seu cortejo, está obsoleto, como tantas outras excrescências do carnaval (machista) do passado.

Porém, o que não está ultrapassado é o lirismo dos blocos.

Não falo do lirismo dos gregos, que cantavam a poesia ao som da lira. (Embora os blocos, por serem musicais, tragam algo desse jeito grego de fazer arte). Nem tampouco me refiro ao lirismo do canto ou da poesia lírica, enquanto gênero musical ou literário. Falo do lirismo atemporal. Do lirismo enquanto expressão artística de qualquer humano. Do lirismo de quem assobia, distraidamente, enquanto caminha, ou de qualquer um que, amorosamente, canta para embalar o filhinho insone. O lirismo que não é apenas do poeta, mas o lirismo do homem e da mulher, da criança e do adulto. O lirismo entranhado na vida cotidiana do povo.
Importa então definir lirismo enquanto uma forma de apreensão da natureza e das coisas em derredor. Eu diria ainda que a primeira impressão que temos do mundo é lírica. Quando a criança diz aos pais: vejam que lindo cachorrinho! Ou quando um de nós passa de ônibus à beira mar e espicha os olhos e a alma até a linha do horizonte... é lírico, esse eu que se enternece, que vê o belo, que apreende as nuanças da vida em torno: um rosto, uma praça, um sorriso de criança, os cabelos grisalhos de um saudoso avô. Por isso, é que o lirismo está na categoria do atemporal. Enquanto houver um ser humano que se enterneça, que se ocupe subjetivamente da emoção com o belo das coisas em derredor, aí estará o lirismo. E quando falo das coisas em derredor, não trato apenas das visíveis, mas das que não se podem ver, com os olhos da face. O que me dizem da emoção com a bondade, com a fraternidade, com o bem? Não é lírica a emoção de ver a união entre as pessoas, a solidária convivência entre os que se amam com desinteressado amor?. Dentre as coisas em derredor, o lirismo também alcança as invisíveis, as essenciais, as que ficam para sempre. É esse lirismo que ostenta o nosso lindo flabelo:

“Bloco Lírico Flores do Capibaribe”

Um bloco lírico: essa foi a melhor denominação que poderia ter sido dada a esse grupo das Flores do bairro da Várzea do Capibaribe. Pois o lirismo é coisa eternamente jovem. O lirismo é um valor do presente. E a preservação do lirismo é também a preservação da emoção humana voltada para o belo, para o bom e para o bem.
Guardem isso na alma, queridas Flores. E, nesse momento em que a juventude começa a se achegar ao grupo, não deixemos de refletir que somos líricos, sentimentais, mas não somos um bloco de passadistas. Flores existem, desde o começo das eras. Todavia, elas não representam o passado, e, sim, simbolizam a renovação, a primavera, o recomeço dos ciclos sazonais. Que sejam bem-vindos os jovens com suas idéias e com sua energia. E longa vida ao Bloco Lírico Flores do Capibaribe.
“Por isso, as Flores do Capibaribe vieram às ruas cantar com emoção, louvando a resistência da nova geração que gosta do lirismo que há nas canções desses blocos antigos.”

Beijos e eternas flores!
Lula Eurico