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segunda-feira, 1 de junho de 2009
CARTA INÉDITA DE DOM HÉLDER SOBRE O PE. HENRIQUE
Homenagem deste blogue aos 40 anos da martirização do Pe. Antonio Henrique Pereira Neto.
A foto é de um canavial da Cidade Universitária, nas proximidades de onde é, hoje, por ironia, o portão do Colégio Militar do Recife.
Carta inédita de Dom Helder Câmara narrando os tensos momentos entre a informação do assassinato e o velório do Padre Henrique Pereira, trucidado em 1969 por integrantes da ditadura militar brasileira. Na época, a Igreja Católica em Pernambuco vivia sob censura e o arcebispo costumava escrever cartas para registrar os fatos que a imprensa não divulgava. No caso do Padre Henrique, a família não pôde, sequer, publicar nos jornais o tradicional anúncio fúnebre.
À querida Família Mecejanense
Recife 27/28 de maio de 1969
525ª. Circular
De repente, às 13:30h me chega o boato de que Pe. Antônio Henrique havia sido assassinado. Procura daqui, procura dali, ele foi identificado no necrotério de Santo Amaro , onde dera entrada como cadáver desconhecido.
Estaria com sinais de sevícias incríveis: 3 balas na cabeça, uma instalada na garganta, sinais evidentes de que foi amarrado pelos braços e pelo pescoço, e arrastado... 28 anos de idade, 3 anos de sacerdote. Crime: trabalhar com estudantes e ser da linha do Arcebispo.
Coube-me procurar os velhos pais e dar-lhes a notícia terrível. No necrotério – onde ficamos até as 19hs, quando o cadáver foi liberado pelos médicos legistas – vivi uma Avant-Premiére de minha própria morte. Burburinho na sala. Gente chegando de todos os cantos. A Imprensa escrita, falada, teve ordem de ignorar o acontecimento, mas demos avisos a todas as paróquias, por telefones e recados pessoais.
Levei-o para a Matriz do Espinheiro. Escolhida sob meu divã, inclusive para causar impacto no meio independente.
Na primeira concelebração, às 21hs, tínhamos mais de 40 sacerdotes e a igreja, enorme, estava transbordante de jovens.
Dei uma tríplice palavra:
· Palavra de fé, aos velhos Pais, esmagados de dor;
· Palavra de esperança, aos jovens com quem ele trabalhava, assumi o compromisso de que eles não ficariam órfãos;
· Aos fieis que enchiam o templo – mais uma vez que a imprensa escrita e falada tinha ordem para recusar até o aviso pago de falecimento – pedi que ajudassem a espalhar que às 9hs, haverá nova concelebração, saindo o enterro, às 10hs, para o cemitério da Várzea, que é o cemitério da família.
Li então, a nota, assinada pelo Governo Colegiado, nota que a imprensa não divulgará, mas que nós tentaremos espalhar por toda a cidade, pelo País e... pelo Mundo.
1 . Cumprimos o pesaroso dever de comunicar o bárbaro trucidamento do Pe. Antônio Henrique Pereira Neto, cometido na noite de ontem, 26 do corrente, nesta cidade do Recife.
2. Com 28 anos de idade e 3 anos de sacerdote, o Pe. Henrique dedicou a vida ao Apostolado da Juventude, trabalhando, sobretudo, com os universitários.
Às 22:30h de ontem, segundo o testemunho de um grupo de casais, esteve reunido, em Parnamirim, com pais e filhos na tentativa, que lhe era tão cara, de aproximar as gerações.
3. O que há de particularmente grave no presente crime, além dos requintes de perversidade de que se revestiu (a vítima, entre outras sevícias, foi amarrada, enforcada, arrastada e recebeu 3 tiros na cabeça) é a certeza prática de que o atentado brutal se prende a uma série pré-estabelecida e objeto de ameaças e avisos.
4. Houve, primeiro, ameaças escritas em edifícios, acompanhadas, por vezes, de disparos de armas de fogo. O Palácio de Manguinhos recebeu numerosas inscrições. O Giriquiti foi alvejado. A residência do Arcebispo, a Igreja das Fronteiras, alvejada e pichada.
5. Vieram, depois, ameaças telefônicas, com o anúncio de que já estavam escolhidas as próximas vítimas.
A primeira foi o estudante Cândido Pinto de Melo, quartanista de Engenharia, presidente da União de Estudantes de Pernambuco. Acha-se inutilizado, com a medula seccionada.
A segunda foi um jovem sacerdote, cujo crime exclusivo consistia em exercer apostolado entre os estudantes.
6. como cristãos e, a exemplo de Cristo e do proto-mártir, S. Estevan, pedimos a Deus perdão para os assassinos, repetindo a palavra do Mestre: “Eles não sabem o que fazem”.
Mas julgamo-nos no direito e no dever de erguer um clamor para que, ao menos, não prossiga o trabalho sinistro deste novo Esquadrão da Morte.
7. Que o Holocausto do Pe. Antônio Henrique obtenha de Deus a graça da continuação do trabalho pelo qual doou a vida e a conversão de seus algozes.
Recife, 27 de maio de 1969.
+Helder, Arcebispo de Olinda e Recife
+ Lamartine, Bispo auxiliar e Vigário Geral
Mons. Arnaldo Cabral , vigário episcopal
Mons. Ernani Pinheiro, Vigário Episcopal
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A enorme assembléia cantou e rezou durante todo o santo sacrifício. Quando irrompeu o “Prova de Amor maior não há, do que doar a vida pelo irmão”, ouviam-se soluços...
E aqui estamos em vigília e de plantão. Há o temor de que pretendam obrigar-nos a um sepultamento precipitado e sem assistência. Em caso contrário, será uma apoteose:
Após a segunda concelebração, o enterro seguirá a pé , até o inicio da Avenida Caxangá.
O que a muitos parecia fantasia, de repente tornou-se claro para a cidade inteira. Querem que eu me proteja; que não ande só, à noite; que não durma só.
Quem disse que eu ando só? Quem disse que eu durmo só? Andam e dormem comigo, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Velam por mim a Mãe querida e José o amigo fiel... nada acontece ou acontecerá por acaso. É graça, é privilégio viver a 8ª bem-aventurança!
Bênçãos Saudosas do Dom HELDER
Fonte:
Centro Nacional Fé e Política " Dom Hélder Câmara"
http://www.cefep.org.br/noticias/carta_inedita_dom
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Ainda há mártires... Dorothy Stang
O pulmão do planeta possui sérias infiltrações
de um mal terrível
o cancerígeno capitalismo acumulador de riquezas,
o cancerígeno capitalismo destruidor do planeta.
Não há palavra possível pra dizer tamanha crueldade.
Com que imagens denunciar essa absurda realidade?
Imagem:
Irmã Dorothy Stang, assassinada
http://sendomaisambiental.blogspot.com/2009/02/caso-do-assassinato-de-irma-dorothy.html
Quatro anos depois da morte da Irmã Dorothy Stang,
Quatro anos depois da morte da Irmã Dorothy Stang,
que trabalhava com pequenos agricultores na região de Anapu, no Pará,
nenhum dos acusados de serem mandantes do crime foram punidos.
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