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quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Professores do Brasil (nostalgia e perplexidade)





Convidou-me o Valdeir, do blogue Ponderantes, para colaborar com uma postagem sobre o tema do Dia do Professor. O tema me traz dois sentimentos, nostalgia e perplexidade. Nostálgica, me vem a "saudade da professorinha que me ensinou o bê-a-bá"... ou seja, que me ensinou a ler o mundo. Naquele tempo, a escola pública ainda não tinha sofrido a pressão do empresariado da educação; o Estado ainda investia em coisas como saúde, educação, habitação popular, e o modelo capitalista selvagem não havia sucateado os hospitais e as escolas. Era um orgulho estudar na rede pública

Depois do golpe militar de 1964, o fatídico acordo MEC-USAID começa a destruir a excelente rede pública de ensino, que remontava ao Império, extinguindo-se o curso Clássico e diminuindo a carga horária do curso Científico, com a "patriótica" finalidade de criar as escolas profissionalizantes (que, em verdade, iriam criar a mão-de-obra barata para atender às multinacionais). Era tudo o que queria o capitalismo: o aluno pobre estudaria apenas para trabalhar nas fábricas e, logo em seguida, fazer da educação um produto que dá lucro. Com isso, a rede de ensino privado arrasta a classe média e alta, deixando os menos favorecidos numa rede pública, agora sucateada e desassistida.

Com o golpe, o Estado brasileiro optaria pelo mais selvagem modelo de capitalismo, cujas consequências nos chegam até os dias de hoje. Dentro desse modelo afundariam os hospitais e as escolas. A decisão de não fazer as reformas de base (entre elas a reforma agrária), propostas por Jango, em seu célebre comício da Candelária, fez com que se desse o êxodo dos moradores do campo para as grande cidades. Em breve, as capitais do Brasil, e as regiões metropolitanas estariam circundadas por imensos bolsões de miséria, de desemprego, de doença. A favelização do país começa com o golpe.

Espremidos entre a miséria das favelas e a miséria da escola, sitiado pela violência dos morros e do asfalto, encontraremos o mais oprimido entre os servidores públicos: o Educador.

Eis o motivo da minha perplexidade. O golpe que perseguiu educadores como Paulo Freire e Darci Ribeiro, deixa o legado da destruição do que era o sustentáculo da nação, a destruição do ensino público e gratuito, alijando das fontes do saber, milhões de crianças e jovens pobres. Esse é o cenário em que atua o Educador brasileiro. Não raras vezes enfrentando alunos armados em sala de aula. Enfrentando ainda as dificuldades dos parcos salários, do difícil acesso, das comunidades dominadas por milícias e traficantes. Essa situação me deixa perplexo quanto ao futuro e nostálgico com os tempos passados . Que saudade da professorinha que me ensinou o bê-a-bá, nos idos de 1960. Agora se faz necessária mais do que uma pedagogia do oprimido, mas uma pedagogia para os embrutecidos, posto que a miséria e a fome esgarçaram os valores da sociedade e trouxeram a violência para o dia a dia do tão sofrido Professor do Brasil.

Salve, Professor Valdeir.
É isso!