"Matias de Albuquerque punha sentinelas nas elevações de Olinda, para anunciar os mastros inimigos. Mas quem vê as forças que hoje nos invadem?" (Osman Lins, in A Rainha dos Cárceres da Grécia)
Primeiro eles transmutam os cidadãos em consumidores. É tanto que nossa lei mais famosa é o Código do Consumidor. Consumidor não pensa, consome. Não cria, consome. Não fabrica, consome. Não critica, não polemiza, não transforma. Consumidor não precisa fazer cultura popular. Eu lhes trago um pacote pronto, idealizado e produzido por uma empresa e, zás!, o pacote é consumido vorazmente.
Pois é... até que me provem o contrário, fiquei com uma impressão que o MCP-pocket que foi apresentado ontem na Praça da Várzea, embalado pra viagem com o pomposo título de Caravanas do Movimento de Cultura Popular é mais uma forma de desarticular os que fazem cultura nos bairros. Não houve divulgação, interação, articulação, nada! No fim da tarde, passou um carro-de-som e à boca da noite já estavam com tudo montado no coreto. A qualidade do espetáculo é boa, não resta dúvida. Não critico aqui os atores e dançarinos do Boi D'Loucos, que tem origens no movimento cultural do bairro da Casa Amarela. Mas, nada que a Várzea não venha fazendo há décadas, e aqui se faz com o povo, junto e misturado. Cultura popular se faz na rua. E esses que planejaram essa Caravana do MCP, ao que parece, pretendem retomar o projeto original, (que também aconteceu aqui na Várzea, nas Praças de Cultura, do Prefeito Miguel Arraes, antes do Golpe), com a feição elitizada que vem marcando a nova gestão da Prefeitura. Será que querem reeditar o MCP como se fosse uma franquia, um MCP-kitsch, sem a participação popular? E o pior, para uma geração de consumidores, que já não questiona a realidade e que se torna presa fácil dos manipuladores. Seria uma versão do MCP-ópio-do-povo?
Espero estar completamente equivocado nessas minhas cismas. Espero que essa Caravana não seja oportunista e eleitoral. Espero e minha esperança não morreu. Sempre fui um arraesista e isso herdei de meu pai. Por isso, não admito que uma de suas ações mais fecundas, o Movimento de Cultura Popular seja apresentado como um produto, como um objeto de consumo, com possibilidade de chegar à campanha eleitoral como mera peça publicitária de algum marketeiro fdp. O MCP merece respeito!
Se eu estiver enganado, contem com minha adesão incondicional. Mas não me venham com políticas culturais de cima pra baixo, pois o povo das comunidades aprendeu a discernir o joio do trigo.
Com a palavra a Fundarpe.
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