Os três estágios da técnica, segundo Ortega y Gasset:
1. a técnica do acaso; 2. o artesanato; 3. a técnica do técnico.
1 A técnica do acaso não consegue senão um escasso repertório de atos, sempre iguais, produzindo as mesmas coisas, e que mal se distinguem da atividade natural biológica. Falta ao seu beneficiário, o chamado primitivo ou selvagem, consciência específica de seu precário instrumental, um prolongamento da manejabilidade da mão, de que, um dia, Engels fez exaltado elogio. Se ele inventa, não sabe que inventa.
2 Já no segundo estágio, o repertório aumenta, acompanhado pela consciência de que o seu uso, parte de uma tradição estabilizada, demanda a capacidade especial de alguns homens: os artesãos, artífices e profissionais, conservadores por excelência; o que fabricam ou modificam resulta de uma aprendizagem herdada, esquecida, que continua inercialmente, como repetição de práticas passadas, fixando-se num sistema de artes e ofícios. Mas o artesão é, ao mesmo tempo, técnico e operário, o que sabe e o que executa.
3 A técnica do técnico é aquela do pleno conhecimento das práticas em uso, quando o homem chega a fabricar o instrumento que pode fabricar tudo: a máquina. Então o conhecimento pleno das práticas e, portanto, da técnica, corresponde à noção de uma só capacidade ilimitada de fazer e de produzir. Ortega aqui, já tem aqui em vista a técnica avançada, a tecnologia, que separa o técnico do operário, e cujas potencialidades incalculáveis assustam. Devido a essa capacidade para fazer e ser tudo, capacidade imaginável, o homem já não sabe que é o que efetivamente é. E, no entanto, a assustadora técnica, a tecnologia, como pletora de possibilidades, é mera forma oca – como a lógica mais formalista, é incapaz de determinar o conteúdo da vida.
Fonte:
História e ontologia (Da essência da técnica)
Benedito Nunes
Universidade Federal do Pará
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1517-24301999000100002&script=sci_arttext
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