Seguidores solidários

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!





Hoje, 19/08/09, andei lendo os comentários desta rede, sobre a saída da Senadora Marina Silva do PT, e achei, em sua maioria, de uma injustiça sem tamanho. Mas o que esperar de uma atmosfera política em que o maniqueísmo reina absoluto?
Entendo, (à revelia de muitos, que acham que Marina vai dividir votos de uma provável candidatura Dilma), ser bom para a democracia brasileira, que, no primeiro turno, sejam debatidas as idéias de todos os matizes partidários e/ou pensantes, sobre os rumos políticos e econômicos do Brasil; e Marina representa, como ninguém mais, a idéia do desenvolvimento sustentável. Se vai ou não ser candidata, ou se, em sendo, ganhará as eleições, isso não é o mais importante. Pode até perder, como o Lula perdeu, defendendo um antigo ideário socialista, do qual, hoje em dia, a maioria do PT nem se lembra mais.
Mas, Marina não é um Lula de saias. Lula tinha a formação de sindicalista em São Paulo, e a visão do progresso forjado na industrialização. Marina vem das lutas dos seringueiros. E seu ideário é a fruta da convergência de todas as lutas ecossociais do planeta. É a hora de ouvi-la. Será que a pluralidade das idéias não tem o seu espaço nessa terra?
Antes de ouvir os comentários zangados e desleais dos maniqueus de plantão, melhor ouvir as razões da Marina e dar-lhe o crédito que o seu caráter merece e impõe:

"Cheguei à conclusão de algo muito semelhante ao que fiz a mais ou menos 30 anos atrás, quando decidi aos 16 anos sair da minha casa (...) naquele momento tive um sonho, de cuidar da saúde e estudar (...) e fui para Rio Branco, uma decisão difícil (...) eu recorro a essa história para dar a dimensão do que significa a dimensão de me desligar do Partido dos Trabalhadores depois de 30 anos de uma trajetória de trabalho, de construção, etc", comunicou.
(Notícias Terra)

Portadora da voz de um Chico Mendes, sonhadora e utópica, destemida e fiel ao partido até o fim, Marina é "mais macho que muito homem", como diz a canção da Maria Rita. E se apresenta como uma boa oportunidade para repensarmos os caminhos da política brasileira. Enquanto, em Brasília, os políticos chafurdam na disputa de quem é mais desonesto, se o Sarney ou o Virgílio, a senadora Marina Silva vem, em boa hora, levantar questões de uma nova mentalidade, uma política com visão planetária, que, pessoalmente, julgo, prioritária e vital, para o país e para o mundo, nessa quadra histórica da humanidade.

Então, é preciso que se ouça, com o respeito que ela merece, a Senadora Marina Silva. O Brasil não se limita à disputa "paulista" do PT versus PSDB. Existe um Brasil do Norte, com um povo sábio e antiquissimo, e do Nordeste, cuja geografia fez com que o autor de Os Sertões ficasse impressionado com a fortaleza de ânimo de seu povo .
O Brasil é plural, e isso é tão óbvio, que me espanta querer fazer das eleições do país, uma querela eleitoreira entre dois partidos, que dispense a participação das múltiplas vozes, que precisam participar da reconstrução dessa vida democrática, tão jovem, e por tantas vezes impedida de vicejar. Precisamos correr os riscos da liberdade. Fala, Marina! Fala!

Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!

@@@@@@@@@@@@@@@@@

sábado, 15 de agosto de 2009

FICA MARINA!!!




















Hoje é a véspera da posse do Dom Saburido, e uma brisa de esperança volta a soprar nos quatro cantos da Arquidiocese de Olinda e Recife. Mesmo os não-religiosos, como eu, celebram essa mudança de ares. Um bom cristão faz bem a todos, quer sejam ateus, budistas, ou espiritistas. Um bom cristão é reverenciado por todos, como é ainda o Dom Hélder. Quem lembra o nome de um inquisidor? Quase ninguém. Mas lembramos São Francisco, que viveu há uns 8 séculos atrás. Portanto, esqueçamos o nome do bispo que sai (e já vai, tarde) e celebremos o grande homem de Deus que chega à Arquidiocese.

Mas, e não é sobre Marina Silva, essa postagem?
É sim. Posto que ela também é cristã e tem o discurso da utopia e da esperança. Ela representa, em seu santo silêncio, após a saída do ministério do Lula, a ética, a fidelidade ao partido e aos amigos de lutas. Por isso, após ler no TERRA BRASILIS a entrevista que ela deu ao blogueiro Ricardo Kotscho, resolvi postar esse


FICA MARINA!


e, logo a seguir, transcrever a íntegra da entrevista. Vejam que mulher o PT corre o risco de perder.



Exclusivo/Marina Silva no Balaio: as utopias e a mosca azul


BRASÍLIA - Duas da tarde de quinta-feira, dia 13. A senadora Marina Silva (PT-AC), 50 anos, está terminando de almoçar com Moara, sua filha de 19 anos, estudante de Direito, que acabara de chegar da Inglaterra.

Sai da cozinha do seu amplo, mas modesto apartamento funcional da 309 Sul, e recebe-me na sala com um beijo e o mesmo sorriso sereno e amigo de sempre.

Como o tempo que temos para conversar é pouco, alertou-me a assessora de imprensa Jandira Gouveia, vou direto ao assunto que agitou a semana política e o cenário da sucessão presidencial, desde que a sua candidatura presidencial foi lançada pela direção do PV.

Balaio - Você sempre foi uma pessoa movida pelo coração, que eu sei. Neste momento, o que diz o teu coração: você fica no PT ou vai para o PV, que te ofereceu a candidatura à Presidência da República?

Marina - Olha, se eu tivesse esta certeza no coração, chamaria meus velhos companheiros Binho (o ex-colega de faculdade e atual governador do Acre, Binho Marques), Jorge (duas vezes governador do Acre, Jorge Viana) e Tião (senador Tião Viana, do PT-AC), e falaria primeiro para eles. Nesse momento, eu ainda estou vivendo a elaboração de toda a exposição a que me submeti nos últimos dias, ouvindo todas as pessoas, que não foram poucas, para que seja uma decisão consciente da minha parte.

Nos 50 minutos seguintes, Marina manteve-se impassível sentada na mesma posição no sofá, com sua fala mansa e firme sobre a importância da luta contra o aquecimento global e pela preservação da natureza para as futuras gerações, disposta a não abrir o jogo político-partidário por enquanto.

Apesar dos poréns e no entantos, saí de lá convencido de que ela já foi picada pela mosca azul do PV. Posso estar enganado, claro, mas para mim agora é só uma questão de dias, não muitos, para que ela tome a grande decisão da sua vida. O calendário eleitoral fixa um prazo: 30 de setembro, a data limite para a mudança de partido.

Balaio - Você já tinha pensado nesta idéia? Alguma vez já tinha passado pela tua cabeça o plano de se candidatar a presidente da República, antes de receber o convite dos dirigentes do PV?

Marina - Tem uns seis meses que um grupo de jovens criou um site na internet chamado Movimento Marina Presidente. Perguntaram-me se eu autorizava, falei que não. Mas eles iam fazer de qualquer jeito. Não articulei nada para isso. Só ouvia as pessoas falarem sobre esta possibilidade da minha candidatura. Até pedi para que os assessores e as pessoas mais identificadas comigo não entrassem neste site para ninguém dizer que a Marina estava articulando alguma coisa.

A filha Moara vai até o escritório e, na volta, informa à mãe que o movimento foi criado no dia 17 de abril de 2006, mas só nos últimos meses a comunidade criada na internet começou de fato a funcionar.

As conversas com o pessoal do PV, lembra ela, começaram logo após o dia 13 de maio de 2008, quando ela entregou sua carta de demissão no Palácio do Planalto, depois de ocupar por 5 anos, 5 meses e 14 dias - ela guarda os números na cabeça - o cargo de ministra do Meio Ambiente do governo Lula.

Balaio - Como foram estas conversas com os verdes?

Marina - Eles me perguntavam por que eu não entrava no PV, mas eu levava na brincadeira. Pedia para eles pararem com isso, mas eles respondiam que estavam falando sério. Nas últimas semanas, começaram a me informar que estavam preparando a refundação programática do PV, com a participação de pessoas da academia, para colocar a questão do desenvolvimento sustentável na agenda estratégica do partido, planejando a desverticalização da direção e a conquista de novos militantes nos movimentos sociais. O quadro mundial mudou muito desde a criação do PV, há 24 anos, inspirado nos partidos verdes da Europa. Diante desta ameaça de aquecimento global, as questões ambientais não se resolvem sem uma forte integração com a dinâmica econômica. O mundo vive hoje uma forte mudança no modelo de desenvolvimento. É o grande desafio deste século. Estou fazendo uma grande reflexão sobre tudo isso.

Como se vê, o discurso de candidata pelo PV está pronto. O longo namoro dos verdes com Marina chegou ao pedido de casamento no dia 29 de julho último, quando ela foi chamada pela executiva nacional para ser oficialmente convidada a entrar no partido, acenando com o dote da candidatura.

Para convencê-la, mostraram-lhe uma pesquisa do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), coordenada por Antonio Lavareda, que costuma trabalhar para o PSDB e o DEM nas campanhas, provando a viabilidade eleitoral do seu nome.

Nas 81 páginas desta pesquisa feita por telefone, que veio a público no mesmo dia em que conversamos, conclui-se que no confronto direto entre Marina e Dilma, em quatro cenários, a senadora perde em um, empata em outro e ganha em dois.

Balaio - Além da pesquisa, o que mais vocês discutiram neste encontro do dia 29 de julho?

Marina - Foi uma conversa que durou quatro horas em que eu mais ouvi do que falei. Eles me falaram dos novos desafios, das dificuldades que vivem em vários Estados onde há problemas. Mas não quero subordinar a minha decisão sobre a candidatura aos números da pesquisa. O centro da minha reflexão é programático. Como podemos presrvar os ativos ambientais sem que isso traga efeitos indesejáveis ao desenvolvimento? Como podemos integrar preservação com desenvolvimento?

Marina explica que sua reflexão tem que levar em conta três etapas. A primeira, e mais difícil, é se deve ou não se desfiliar do PT, o partido que ajudou a criar. Depois, filiar-se ao PV. Por último, discutir uma possível candidatura.

Balaio - E em que pé está esta reflexão agora?

Marina - Ninguém sai de um partido, depois de 30 anos, e vai para outro só para se candidatar a presidente da República. Esta é uma reflexão visceral para mim e para este século, principalmente para os jovens. Agora vou me recolher em mim mesma para decidir. Precisamos atender ao mesmo tempo às legítimas necessidades das gerações presentes sem inviabilizar o futuro. Precisamos construir uma aliança intergeracional com compromisso ético.

Em nenhum momento da nossa conversa, antes que eu tocasse no assunto, Marina falou dos seus tempos de governo ou dos programas e projetos do PT nesta área, como se ambos já fizessem parte do passado.

Balaio - Neste um ano e meio que você deixou o governo, tem conversado com o presidente Lula? Como estão tuas relações com o governo e o PT?

Marina - Sempre que há necessidade de uma interação institucional da senadora com o presidente e o governo é natural que a gente converse. Foi assim na recente homenagem ao João Candido, com a anistia póstuma e a inauguração da sua estátua, e no episódio da regulamentação fundiária na Amazônia. Estou me sentindo muito serena quanto a isso, graças a Deus. Vários companheiros do PT vieram falar comigo para que ficasse no partido, para continuarmos juntos. Conversamos muito também sobre a crise do Senado nestas últimas semanas. Mas é um erro ficarmos só falando da crise do Senado. Quantas possibilidades nós não temos de melhorar a vida no nosso país? Kant dizia que o projeto de um mundo melhor sempre caminha em paralelo com o projeto de um mundo pior. As coisas são mesmo paradoxais. Existe a crise do Senado, claro, ela é grave, mas também existe muita esperança neste Brasil, neste mundo em que a gente vive. Vivemos aqueles momentos do cerceamento da liberdade na ditadura, mas nunca vivi tanta esperança como naquela época. Mais tarde, um sociólogo consolidou a democracia e elegemos um metalúrgico realizador das nossas utopias. As políticas sociais do governo Lula são a realização das nossas utopias, embora estejam ainda apenas no começo. Isso precisa ser preservado e consolidado.

Marina se anima ao falar das utopias e dos utopistas, para desespero da assessora que fica olhando o relógio (num único dia, Jandira chegou a receber 60 ligações de jornalistas). Fala de Florestan Fernandes, Celso Furtado, Paulo Freire, Chico Mendes, D. Hélder, D. Moacyr, e junta na mesma lista Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, “os mantenedores das utopias”.

“Quero ser para os jovens e as pessoas da minha geração o que estas pessoas que citei foram para mim, uma mantenedora da utopia”.

Na hora de me despedir, Marina lembra que batizou sua única filha de Moara (ela tem mais três filhos homens), que quer dizer liberdade em tupi-guarani, em homenagem à primeira campanha presidencial de Lula, em 1989, quando ela estava grávida da menina.

“Viajava pelo Acre com uma barriga de oito meses, expremida num avião monomotor, entre o Jorge e o Tião, e eles falavam que eu ia entrar em trabalho de parto…”.

Em tempo: Se Marina for mesmo candidata, ela foi o quarto presidenciável que deu entrevista exclusiva a este Balaio desde a abertura do blog em setembro do ano passado (antes dela, foram Aécio, Ciro e Dilma). Agora só falta José Serra.

Se depender dos leitores do Balaio, que decisão Marina Silva deve tomar? (Balaio do Kotscho)









Postado por prof. DiAfonso às 18:55
Marcadores: Marina Silva, Ricardo Kotscho

@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@


FICA MARINA, FICA!!!

(se não a gente vai também...rsrsrs)

@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@

sábado, 18 de julho de 2009

Dom Fernando Saburido, teu povo te espera!























Não sou religioso. Nem gosto de religião, se querem saber. Calma! Não gosto das instituições, mas sou fã ardoroso dos que vivem o evangelho do Cristo. E isso é diferente de professar algum credo. Vide Betinho, o ateu mais santo que conheço nessa pátria. Bem, sou recifense/olindense pois nasci numa e adotei a outra como mãe de leite, rsrsrs. Amo o povo daqui, com suas esperanças, suas carências, seus pecados e vícios, sua humanidade. Não tenho nada pessoal contra o bispo que se vai, e já vai tarde. Ainda bem que ele não pode me excomungar, pois fiz isso bem antes dele. Mas tenho tudo a favor do novo bispo que irá assumir a Arquidiocese (toc toc toc, três toques na madeira pra o Bento XVI não mudar de idéia). E já lhes explico a razão da minha simpatia pelo Dom Fernando Saburido:
Tempos atrás acompanhei a Procissão dos Passos, em Olinda. O interesse não era religioso, mas histórico. Minha namorada, hoje companheira, queria fotografar os nichos da cidade, que só são abertos nessa procissão, para um trabalho da faculdade. Bem, em cada nicho a procissão dá uma parada, abre-se a portinhola do altar e acontece uma espécie de homilia. Foi aí que fiquei fã do homem. Foi quando o ouvi pregar o evangelho. Falou de um tudo, desde a questão indígena, até a violência urbana. Desde a mídia alienante até as cantigas de roda com frases indutoras da violência. Exemplo: "atirei o pau no gato, mas, o gato não morreu." Baseado nessa cantiga de roda o então bispo auxiliar fez uma prédica sábia e fácil de entender. Nada de legalismos, nada de citar o direito canônico, nada de excomunhões e outras coisas que nos lembram o nefasto Santo Ofício, que de santo só tinha o nome. Soubemos pelo povo, que o bispo auxiliar estava de partida pra ser Arcebispo de Sobral, no Ceará. Eu então vaticinei, entre goladas espumosas de cerveja com a namorada e dois amigos, no fim da tarde olindense, (claro que depois da procissão, né?). Eu disse: esse cara ainda vai ser o nosso Bispo. Os amigos, cujo casamento tinha sido oficiado por ele, quando ainda padre da paróquia de Ouro Preto, bairro pobre de Olinda, disseram-me que isso seria uma benção de Deus. Taí, gente. Taí, Murillão. Taí, Luciane (são dois "taís" pq hoje estão divorciados). Taí povo do Recife e Olinda! Nem a Copa de 2014 será tão importante pra nós do que a vinda do Dom Fernando Saburido para a Arquidiocese de Olinda e Recife.

Dom Fernando, receba o meu abraço fraterno!
Sua missão é difícil, pois a obra de Dom Hélder precisa ser restaurada!

(Quem sabe se o senhor aqui estivesse, até teria evitado o divórcio dos meus amigos) rsrsrs, brincadeirinha...

E, pra finalizar, repito os versos do Chico, Vinicius e Garoto:
"e eu que nem creio peço a Deus
por minha gente,
é gente humilde..."

E canto com o Roberto:
"aleluia, aleluia
em tudo isso tem a mão de Deus."

(Ufa! Já não agüentava mais a alma formalista e rígida do Bispo que se vai...)

Fonte da imagem:
Blog Jamildo (da próxima vez encontro o Bispo com roupas rubronegras rsrsrs)

@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@

segunda-feira, 1 de junho de 2009

CARTA INÉDITA DE DOM HÉLDER SOBRE O PE. HENRIQUE



Homenagem deste blogue aos 40 anos da martirização do Pe. Antonio Henrique Pereira Neto.
A foto é de um canavial da Cidade Universitária, nas proximidades de onde é, hoje, por ironia, o portão do Colégio Militar do Recife.





Carta inédita de Dom Helder Câmara narrando os tensos momentos entre a informação do assassinato e o velório do Padre Henrique Pereira, trucidado em 1969 por integrantes da ditadura militar brasileira. Na época, a Igreja Católica em Pernambuco vivia sob censura e o arcebispo costumava escrever cartas para registrar os fatos que a imprensa não divulgava. No caso do Padre Henrique, a família não pôde, sequer, publicar nos jornais o tradicional anúncio fúnebre.



À querida Família Mecejanense
Recife 27/28 de maio de 1969
525ª. Circular

De repente, às 13:30h me chega o boato de que Pe. Antônio Henrique havia sido assassinado. Procura daqui, procura dali, ele foi identificado no necrotério de Santo Amaro , onde dera entrada como cadáver desconhecido.
Estaria com sinais de sevícias incríveis: 3 balas na cabeça, uma instalada na garganta, sinais evidentes de que foi amarrado pelos braços e pelo pescoço, e arrastado... 28 anos de idade, 3 anos de sacerdote. Crime: trabalhar com estudantes e ser da linha do Arcebispo.
Coube-me procurar os velhos pais e dar-lhes a notícia terrível. No necrotério – onde ficamos até as 19hs, quando o cadáver foi liberado pelos médicos legistas – vivi uma Avant-Premiére de minha própria morte. Burburinho na sala. Gente chegando de todos os cantos. A Imprensa escrita, falada, teve ordem de ignorar o acontecimento, mas demos avisos a todas as paróquias, por telefones e recados pessoais.
Levei-o para a Matriz do Espinheiro. Escolhida sob meu divã, inclusive para causar impacto no meio independente.
Na primeira concelebração, às 21hs, tínhamos mais de 40 sacerdotes e a igreja, enorme, estava transbordante de jovens.
Dei uma tríplice palavra:
· Palavra de fé, aos velhos Pais, esmagados de dor;
· Palavra de esperança, aos jovens com quem ele trabalhava, assumi o compromisso de que eles não ficariam órfãos;
· Aos fieis que enchiam o templo – mais uma vez que a imprensa escrita e falada tinha ordem para recusar até o aviso pago de falecimento – pedi que ajudassem a espalhar que às 9hs, haverá nova concelebração, saindo o enterro, às 10hs, para o cemitério da Várzea, que é o cemitério da família.

Li então, a nota, assinada pelo Governo Colegiado, nota que a imprensa não divulgará, mas que nós tentaremos espalhar por toda a cidade, pelo País e... pelo Mundo.

1 . Cumprimos o pesaroso dever de comunicar o bárbaro trucidamento do Pe. Antônio Henrique Pereira Neto, cometido na noite de ontem, 26 do corrente, nesta cidade do Recife.
2. Com 28 anos de idade e 3 anos de sacerdote, o Pe. Henrique dedicou a vida ao Apostolado da Juventude, trabalhando, sobretudo, com os universitários.
Às 22:30h de ontem, segundo o testemunho de um grupo de casais, esteve reunido, em Parnamirim, com pais e filhos na tentativa, que lhe era tão cara, de aproximar as gerações.
3. O que há de particularmente grave no presente crime, além dos requintes de perversidade de que se revestiu (a vítima, entre outras sevícias, foi amarrada, enforcada, arrastada e recebeu 3 tiros na cabeça) é a certeza prática de que o atentado brutal se prende a uma série pré-estabelecida e objeto de ameaças e avisos.
4. Houve, primeiro, ameaças escritas em edifícios, acompanhadas, por vezes, de disparos de armas de fogo. O Palácio de Manguinhos recebeu numerosas inscrições. O Giriquiti foi alvejado. A residência do Arcebispo, a Igreja das Fronteiras, alvejada e pichada.
5. Vieram, depois, ameaças telefônicas, com o anúncio de que já estavam escolhidas as próximas vítimas.
A primeira foi o estudante Cândido Pinto de Melo, quartanista de Engenharia, presidente da União de Estudantes de Pernambuco. Acha-se inutilizado, com a medula seccionada.
A segunda foi um jovem sacerdote, cujo crime exclusivo consistia em exercer apostolado entre os estudantes.
6. como cristãos e, a exemplo de Cristo e do proto-mártir, S. Estevan, pedimos a Deus perdão para os assassinos, repetindo a palavra do Mestre: “Eles não sabem o que fazem”.
Mas julgamo-nos no direito e no dever de erguer um clamor para que, ao menos, não prossiga o trabalho sinistro deste novo Esquadrão da Morte.
7. Que o Holocausto do Pe. Antônio Henrique obtenha de Deus a graça da continuação do trabalho pelo qual doou a vida e a conversão de seus algozes.


Recife, 27 de maio de 1969.

+Helder, Arcebispo de Olinda e Recife
+ Lamartine, Bispo auxiliar e Vigário Geral
Mons. Arnaldo Cabral , vigário episcopal
Mons. Ernani Pinheiro, Vigário Episcopal



------------------------------------------

A enorme assembléia cantou e rezou durante todo o santo sacrifício. Quando irrompeu o “Prova de Amor maior não há, do que doar a vida pelo irmão”, ouviam-se soluços...
E aqui estamos em vigília e de plantão. Há o temor de que pretendam obrigar-nos a um sepultamento precipitado e sem assistência. Em caso contrário, será uma apoteose:
Após a segunda concelebração, o enterro seguirá a pé , até o inicio da Avenida Caxangá.
O que a muitos parecia fantasia, de repente tornou-se claro para a cidade inteira. Querem que eu me proteja; que não ande só, à noite; que não durma só.
Quem disse que eu ando só? Quem disse que eu durmo só? Andam e dormem comigo, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Velam por mim a Mãe querida e José o amigo fiel... nada acontece ou acontecerá por acaso. É graça, é privilégio viver a 8ª bem-aventurança!

Bênçãos Saudosas do Dom HELDER


Fonte:
Centro Nacional Fé e Política " Dom Hélder Câmara"
http://www.cefep.org.br/noticias/carta_inedita_dom


##########################################

Ainda há mártires... Dorothy Stang



O pulmão do planeta possui sérias infiltrações
de um mal terrível
o cancerígeno capitalismo acumulador de riquezas,
o cancerígeno capitalismo destruidor do planeta.
Não há palavra possível pra dizer tamanha crueldade.
Com que imagens denunciar essa absurda realidade
?



Imagem:
Irmã Dorothy Stang, assassinada
que trabalhava com pequenos agricultores na região de Anapu, no Pará,
nenhum dos acusados de serem mandantes do crime foram punidos.
*******************************************

domingo, 17 de maio de 2009

A mais velha Dama do Paço dos maracatus-nação em Pernambuco

























Ana Carmelita Teodoro

"nascida na Ilha do Leite, campo do Bahia,
e registrada no ano de 1906."



Há uns 50 ou 60 anos atrás (1940/50), morava com o "clã dos Melo", em casa de meus avós, uma cafuza, de nome Ana Carmelita. Eram amigos de infância, desde os albores do século XX, meus avós, filhos de escravos-libertos, nascidos por volta de 1895, e Ana, nascida por volta de 1906. Naquela época eram comuns os agregados em casa de família. Lavavam, passavam, cozinhavam. Era essa a função da Ana Carmelita na nossa família. Não era empregada, já disse, mas agregada.
Desse modo, viu nascerem filhos e netos dos meus avós, eu aí incluído. O que lembro, lá da primeira infância, é que quando chegava fevereiro, a negra Carmela, ou Tia Nana, como os pequenos a chamavam, sumia de casa. Eu ouvia os adultos dizendo que ela dançava em um maracatu. E nesse mês "endoidava" para fazer a fantasia, umas saias rodadas, cheias de armações.
Bem, passou-se o tempo. A Sinhá Nana foi morar com o filho e a nora. Sumiu do mapa. Perdemos ela de vistas. Meus avós faleceram. A vida seguiu.
Dia desses, agora em 2008, ouvindo um programa de rádio, chamado Maracatus, Batuques e Folia, eis que o Mestre, entre uma loa e outra, manda um abraço para Ana Carmelita, a mais velha dama de frente de Maracatu Nação da cidade do Recife. Dei um pulo do sofá. Era ela. Era a minha Tia Nana. E ele disse o endereço dela no ar: Estrada do Bongi.
O Bongi é um bairro quase central do Recife, que eu conheço bem porque fica nas imediações do meu trabalho. Fim de semana, saí à procura da velha Carmelita. Devia ser fácil. Acharia logo a sede do famoso Almirante do Forte. Lá saberiam me dizer onde achar Tia Nana. E, pra minha surpresa e sorte, nem precisei andar muito. Ela estava ali mesmo. Abandonada pelos filhos, a velhinha fora acolhida pelos donos do Almirante. Está morando dentro da sede do maracatu.
Dias depois levei minhas tias, meus pais, toda a família pra rever a velha amiga de infância. Foi lindo ver aquele grupo de meninas, todas na faixa dos 90 anos, rindo e se abraçando. Achamos a nossa ovelhinha perdida.
O Mestre Teté, filho do fundador do Almirante, então me contou da situação de penúria por que passava a agremiação e me pediu ajuda para fazer um projeto para que o Almirante passasse a fazer parte dos Pontos de Cultura, ligados ao MinC (Governo Federal) e à Fundarpe (Governo de Pernambuco).
Nunca havia feito nada parecido, mas, para ajudar a quem, tão generosamente, acolheu minha velhinha, topei. Fizemos, com a ajuda de outros amigos, um projeto despretensioso. Achávamos que os jurados nem iriam ler aquilo. Seja lá o que Deus quiser! disse-me o Mestre Teté.
Entrei como voluntário na Coordenação Técnica e dei meu email, como contato. Um belo dia, chega a boa notícia. O projeto fora aprovado!!!
Agora o Maracatu vai reformar a séde, criar cursos de dança, percussão, informática, vídeo e confecção das próprias indumentárias. Felicidade geral, para uma comunidade humilde, mas determinada e cheia de sonhos.
Viva Sinhá Nana, 102 aninhos, que, mesmo sem sair às ruas (a idade não mais permite), continua a dançar com a boneca de cêra!!!

Viva o Maracatu Nação Almirante do Forte!!!
Viva o mais novo Ponto de Cultura do Recife.

Breve na TV Brasil, mostraremos nossa força.
Nos aguardem na telinha.

Eurico
12/01/09

****************************************


Notas:
1 - Foto tirada durante a primeira reunião do Ponto de Cultura Almirante do Forte, no dia 16/05/2009, em que nossa tia Nana brincou e proseou muito, chamando a atenção para sua lucidez mental. (o clique foi de Kelly Cristina)

2 - Texto no Sítio d’Olinda publicado por Luiz Eurico de Melo Neto, ou simplesmente Eurico, do blogue Eu-lírico.


*****************************************